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Os jeitos dos brasileiros pelos olhos de um meio-gringo
- 17 de outubro de 2016
- Posted by: Guest
- Category: Student/Volunteer Point of View
Tendo visitado o Brasil algumas vezes e tendo mãe brasileira, você deve imaginar que eu conheça o jeito brasileiro de se viver muito bem. Mesmo que eu tenha familiaridade (graças a minha bela mãe) com o fato de que os brasileiros adoram uma festa, um churrasco com bastante carne e não têm problemas em deixar com que as pessoas saibam o que eles estão pensando, meu Deus, tinha muito mais a aprender sobre este belíssimo lugar.
Já que esta foi a primeira vez que agraciei esta rica e vibrante cultura sozinho, pude observar a espécie única que é a cultura brasileira sob uma nova perspectiva.
Conforme muitos dos meus queridos e próximos devem assumir, não hesitei em mergulhar direto no mundo da gastronomia brasileira. Para ser sincero, sempre fiquei feliz com o arroz, feijão e farofa que cresci comendo, mas isso foi antes de descobrir a obsessão do Brasil com os doces. Mesmo que você prefira os salgados como eu, vai se converter. Tenha certeza que seu plano de saúde cobre serviços dentais. Você nunca encontrará uma padaria sem uma extensa sessão de bolos. O irresistível banquete de bolo de fubá, bolo de cenoura e bolo de milho, somente para nomear alguns, não acaba e isso é só o começo.
Não posso nem começar a falar sobre o cuscuz caseiro da minha avó porque na verdade é muito melhor do que o Natal e as festas de aniversários juntos. De qualquer forma, se eu percebi algo sobre a cultura da comida brasileira, foi que a imensa diversidade de comida brasileira reflete a imensa diversidade de cultura brasileira – quase toda região tem sua própria gastronomia.
Quando caminho pelas ruas do Rio todos os dias, uma fala que minha mãe costumava nos dizer constantemente, “barriga feliz faz a alma feliz,” corre pela minha mente enquanto vejo a uma abundância de largos sorrisos estampados nos rostos dos brasileiros.
Por que disso? Por que os brasileiros têm uma personalidade tão boa?
Não é comum que você comece uma conversa casual com pessoas pela rua no seu dia-a-dia no caminho para o trabalho na Austrália, então por que isso acontece com tanta frequência por aqui? Talvez porque haja muito sobre o que se conversar ou talvez eles sintam pena de mim, mas qualquer que seja o motivo, pessoas falantes em lugares mundanos são uma ótima maneira de se medir os níveis de felicidade.
Dito isto, quando me pego preso em uma dessas conversas no metrô, não posso deixar de notar a quantidade de “Meu Deus!”, “Nossa!”, “Meu pai amado!” e “Poxa!”. Você deve ser cego se não perceber que os brasileiros são um dos grupos culturais mais emotivos e passionais. Isto, no entanto, não é novidade para mim, já que estou acostumado com as escolhas do vocabulário de português da minha mãe quando ela tem problemas no trânsito.
É isso que faz dos brasileiros, brasileiros. Mesmo que essa amostra de paixão não combine muito com uma cultura mais conservadora, no final das contas ser ardente e ultrajante é o mecanismo de sobrevivência do brasileiro.
Aqui está um pouco de um diálogo (totalmente verdadeiro) para te dar a ideia do nível de audácia do brasileiro que encontrei:
Bruna: Oi Nathália, desculpa por te dizer isto 5 minutos antes do filme, mas não posso mais ir. Esqueci que tenho que dar banho no meu cachorro.
Nathália: Que isso, Bruna! Meu pai amado! Pelo amor de Deus! Meu Deus, de novo, hein?! Esquenta não, até logo! Beijinhos, Nathália!
Então, como pode ver, eles podem não fazer muito sentido e dar-lhe um fora, mas no final do dia, eles são carinhosos e não briguentos. Não importa quão péssimo amigo você seja por dar um bolo nos seus amigos no último minuto e depois tenha que levar uma bronca, porque este é apenas o jeito brasileiro. Além disso, conforme aprendi da maneira mais difícil, não leve para o lado pessoal se o seu amigo brasileiro não puder comparecer ao seu encontro de última hora devido a alguma circunstância “imprevista”. Ele ainda te ama, provavelmente só está se sentindo um pouco preguiçoso.
Outra coisa que ainda não entendo muito bem é a obsessão do brasileiro de sempre parecer impecável. Perdi as contas das vezes que me chamaram a atenção por sair de casa com um short amassado; é melhor nem pensar em sair de casa com esse tênis sujo por causa da lama no cadarço.
Não é que a polícia da moda brasileira dificulte a sua vida, mas meu pescoço está sempre doendo por causa das vezes que me viro para acompanhar os corpos perfeitos que invadem meu campo de visão todos os dias nas calçadas das praias. Por mais picante que pareça, isto é algo que pega muitos gringos de surpresa. Em que outro lugar você sairia para correr pela manhã no calçadão junto com deuses e deusas sarados e bronzeados vestindo nada mais que um biquíni ou sunga e tênis de corrida? É uma vida difícil.
De qualquer forma, antes das coisas ficarem um pouco quentes demais, uma característica que nunca deixará de impressionar é a capacidade do brasileiro de “dar um jeito” ou “jeitinho”.
Digamos que você esteja com dificuldade em pagar suas contas de energia elétrica, entre em contato com um brasileiro sorrateiro, faça um gato e você nunca terá que se estressar novamente. Apenas uma mexida na fiação e voila, eletricidade de graça! Um dos casos mais brasileiros e divertidamente inteligentes de “dar um jeito” que me deparei foi em relação à “lei seca” (uma legislação brasileira que visa reduzir a quantidade de acidentes de carro relacionados com droga e álcool). Você poderia pensar que esta lei iria dissuadir qualquer tipo de quebra de lei depois de beber umas caipirinhas em uma noite na Lapa, mas a quem estamos tentando enganar quando falamos dos brasileiros?
Em vez disso, os brasileiros se uniram na resiliência à polícia e estão avisando uns aos outros via Twitter sobre o paradeiro da “lei seca” ou onde estão os postos de controle de bafômetro.
Então, depois de descobrir que o Brasil não é apenas samba e praias, só há mais uma coisa a dizer para meu lindo Brasil do meu coração meio gringo,
Te amo.
Por Nick McLennan
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